terça-feira, 5 de outubro de 2010

Rock em Geral entrevista Alex Lifeson

Alex Lifeson, Neil Peart e Geddy Lee nunca foram tão populares como neste inesperado ano de 2010
Alex Lifeson, Neil Peart e Geddy Lee nunca foram tão populares como neste inesperado ano de 2010
Filme em exibição nos cinemas, estrela na calçada da fama de Hollywood, turnê com a íntegra do álbum mais bem sucedido, duas músicas novas bombando na web… O ano de 2010 não poderia ser mais agitado para o Rush. O resultado da inesperada popularidade vai ser conferido pelos brasileiros durante os dois shows da “Time Machine Tour”, que passa por São Paulo, na próxima sexta (8/10) e pelo Rio, no domingo (10/10). Apresentações que devem emocionar público e banda, a julgar pela primeira passagem do trio pelo Brasil, registrada no DVD “Rush In Rio”.
Apesar do nome, a turnê traz novidades. É que o trio, formado por Alex Lifeson (guitarras), Geddy Lee (baixo, teclado e vocais) e Neil Peart (bateria), resolveu lançar as músicas do próximo álbum, “Clockwork Angels”, aos poucos. Duas delas, “Caravan” e “BU2B”, já circulam na web e estão do repertório da turnê. Se o novo CD mantiver a sonoridade dessas duas amostras, “Clockwork Angels” deve trazer de volta os tempos das músicas mais longas e cheias de mudanças de andamentos. A previsão de lançamento do disco completo é para meados de 2011.
Os shows que acontecem em São Paulo e no Rio vão durar cerca de três horas e, além de todas as músicas do álbum “Moving Pictures”, tocadas em sequência, e das duas novas, incluem sucessos como “Closer to the Heart”, “The Spirit Of Radio” e “La Villa Strangiato” – veja o repertório completo aqui. Nessa entrevista exclusiva com o guitarrista Alex Lifeson, você fica sabendo mais detalhes do novo álbum; como foi a turnê pelos Estados Unidos; detalhes dos bastidores do filme “Rush: Beyond The Lighted Stage”; e como a banda está encarando essa verdadeira onda de popularidade entorno de si própria. Aproveite:
Rock em Geral: Vocês estão no meio da turnê americana, como estão indo as coisas (a entrevista foi feita no dia 25 de agosto)?
Alex Lifeson: Sim, estamos bem no meio dessa nova turnê, fizemos uns shows no Canadá, mas a maior parte foi nos Estados Unidos. A turnê está indo realmente muito, muito bem. Turnês em estádios são bem diferentes, o público tem sido incrível, enlouquecendo a cada noite. Estamos indo a muitos lugares que não íamos há tempos. Isso é muito bom, porque a indústria da música esta passando por um período difícil neste momento.
REG: Você acha que o público cresceu nesses lugares?
Alex: Acho que sim, há novos segmentos no nosso público. Há mais mulheres vindo aos shows, e elas cantam todas as letras, conhecem bem a nossa música. E há muitos garotos novos também.
REG: É curioso porque a turnê se chama “Time Machine” e vocês estão tocando a íntegra do álbum “Moving Pictures”, que é de 1980, mas, ao mesmo tempo, há duas músicas novas no repertório, “Caravan” e “BU2B”. Como isso tudo funciona no show?
Alex: Tem dado tudo certo, nossos fãs adoram ouvir o “Moving Pictures” completo, com as músicas na mesma ordem do disco. O fato de estarmos tocando “The Camera Eye”, que fazia tempo que não tocávamos ao vivo, e os fãs viviam pedindo, é um dos pontos altos. Essa parte é muito, muito legal. Ficamos surpresos como a galera curte “Caravan” e “BU2B” ao vivo, são músicas que gravamos outro dia e todos já conhecem.
REG: Você acha que as pessoas estão comprando essas músicas avulsas, na internet, ou estão fazendo download ilegal?
Alex: Todos estão indo atrás, é isso que explica o fato de o público nos shows cantarem conosco. Não há como deter o download ilegal, mas sabemos que as vendas no i-tunes estão indo muito bem. Temos que conviver com os downloads ilegais porque faz parte do jogo.
REG: Vocês têm tocado o mesmo repertório a cada noite. Planejam mudar algo no Brasil? Da última vez vocês incluíram “Closer to Heart” ao saberem que os fãs daqui gostam dessa música…
Alex: Eu não acho que vamos mudar o set, por que o show é muito coreografado, muita coisa que acontece no palco tem a ver com a ordem das músicas. O que eu descobri nessa turnê é que nós podemos, dentro das próprias músicas, improvisar a cada noite. Por exemplo, quando tocamos “Working Man”, já no final, a cada noite é um pouco diferente. Então temos feito isso em algumas músicas, onde podemos aumentar mais um trecho ou mudar a abordagem ou o arranjo, de uma forma ligeiramente diferente. É bom para o show “respirar” um pouco mais.
REG: Qual a lembrança que você tem dos shows de 2002, no Rio e em São Paulo?
Alex: O que mais ficou na minha cabeça… No Rio, quando tocamos “YYZ”, todo o público ficou pulando e pulando sem parar. As luzes estavam acesas e dá pra ver muito bem isso no vídeo “Rush In Rio”. Em São Paulo o público era bem maior, mas o ambiente era todo um pouco mais frio, mas foi bom também. Todos tivemos ótimos momentos no Brasil, realmente já voltamos pensando em voltar.
REG: Como havia mais público no show de São Paulo, vocês chegaram o cogitar gravar o DVD lá, em vez de no Rio?
Alex: É que o Rio era o último show de toda a turnê e havia algo mágico sobre a história da cidade. Já tínhamos a idéia de fazer lá, foi algo bem planejado, toda a idéia do vídeo. Foi perfeito.
REG: Sobe o disco novo, “Clockwork Angels”, quais detalhes você pode adiantar?
Alex: Bem, até agora temos seis músicas compostas, incluído as duas que estamos tocando na turnê. Estamos tentando fazer outras duas ou três músicas, porque há canções épicas que devem fazer do “Clockwork Angels” um disco de longas músicas, com muitas partes, e muito dinâmico. Há algumas com trechos acústicos, misturado com trechos melódicos e alguns bem pesados, assim como acontece em “BU2B”. Vai ser um disco divertido de se fazer.
REG: Tem idéia de quando vocês lançam esse disco?
Alex: Está tudo planejado, mas sabe como é… esses planos mudam o tempo todo. Mas o que temos agora é que vamos terminar a turnê depois dos shows da América do Sul, voltamos e começarmos a compor o que falta e já começamos a gravar, para manter o frescor das músicas. Provavelmente vamos lançar o álbum no meio do ano que vem, e depois saímos numa pequena turnê no inverno e uma turnê mais longa depois. Mas, como eu disse, isso muda o tempo todo. Basicamente vamos tentar gravar o álbum e fazer uma turnê logo em seguida. Nós não queremos fazer o disco às pressas, esse disco vai ser muito importante e queremos ter a certeza de que tudo está legal antes de lançá-lo.
REG: Vai sair um DVD da “Time Machine Tour” também, né?
Alex: Sim, já estamos vendo isso, mas não temos certeza. Não decidimos sobre o que vai entrar, temos alguma idéias, mas no momento estamos no meio de uma negociação quanto a isso, então não há o que falar.
REG: Além de ser o título do álbum, “Clockwork Angels” é também o nome e uma das músicas?
Alex: É, e é uma música muito legal, mas que ainda não tomou a forma final.
REG: É uma das grandes do CD?
Alex: Nesse momento acho que ela está com mais ou menos oito minutos, mas pode crescer, temos muito para ajeitar. Eu disse: tudo muda o tempo todo!
REG: Se você pudesse comparar o material desse álbum com qualquer período da história do Rush, qual época você escolheria?
Alex: Você sabe que é difícil de dizer? Porque é o tipo de coisa que ainda está se desenvolvendo, não terminamos ainda. Na verdade até “Caravan” e “Brought Up to Believe” foram gravadas quando estávamos em estúdio, mas elas mudam um pouco, sabe? É muito cedo para definir ou comparar com qualquer outra coisa. Do jeito que as coisas estão misturadas vai resultar em algo bem diverso. Eu estou torcendo para termos muitas formas diferentes de tocar, em vez de um formato fechado, como costuma acontecer. Porque nós já fizemos algumas gravações, bem cedo, depois deixamos as músicas de lado. Vamos ter um tipo de abordagem diferente… Eu gosto da idéia de lançar músicas aos poucos, tipo de dois em dois meses. Mas isso faz as coisas funcionarem um pouquinho diferente. O seu gosto é diferente, abordagem diferente…

Alex Lifeson e Geddy Lee durane um dos shows da 'Time Machine Tour', que chega ao Brasil esta semana
 Alex Lifeson e Geddy Lee durane um dos shows da 'Time Machine Tour', que chega ao Brasil esta semana

REG: Vocês já pensaram em tocar outro álbum, na íntegra, em turnê?
Alex: Eu acho que com o “Moving Pictures” está funcionando muito bem, era óbvio que, se fizéssemos esse tipo de coisa, seria com este disco. Certamente não faríamos isso com o “Caress of Steel”… Mas eu acho que outros álbuns legais para tocar nos shows seriam o “2112”, talvez o “Permanent Waves”… O “Moving Pictures” é o disco para esse tipo de coisa, sobretudo porque tem “Camera Eye”, que muitos fãs sempre quiseram ver ao vivo.
REG: Está para ser lançado o DVD da série “classic albums” com os discos “Moving Pictures” e “2112”. Fizeram a escolha certa? Como foram as gravações?
Alex: São os mais significativos e acho que eles escolheram também porque despertam curiosidade por parte do público. Mas há boas histórias em outros álbuns que nós fizemos também. A gravação foi legal, eles vieram com os dois discos no mesmo dia… E lembrar o que você fez há 30, 35 anos não é fácil, porque eles perguntam os mínimos detalhes, tipo como você tocou isso, qual guitarra você usou pra gravar aquilo. Eu não me lembro! Mal me lembro o que fiz ontem! Foi um desafio, porque não foi fácil. Ao menos gravaram comigo e com o Geddy juntos.
REG: Vocês estão gravando um novo álbum, entraram para a calçada da fama de Hollywood, para o hall da fama dos compositores canadenses, tem um filme com a história do Rush passando nos cinemas… Estamos vivendo uma espécie de “ano do Rush”?
Alex: Eu não sei o que aconteceu! É uma loucura! Eu vou te dizer: nós sempre fomos populares entre os nossos fãs, claro, mas sempre fomos um pouco subavaliados. Estamos muito felizes com tudo o que temos, esse negócio de maior “cult band”. Agora, por causa do documentário, hall da fama e tudo o que aconteceu, estamos muito mais populares, as pessoas estão mais curiosas porque estão o tempo todo ouvindo falar de nós, lendo sobre nós e tudo isso. É uma coisa diferente, traz uma demanda um pouco maior, e tem ver com estamos mais sob pressão, na verdade.
REG: E como vocês lidam com isso?
Alex: Há mais pessoas para dar atenção, é preciso balançar a mão mais vezes. Eu entendo que isso tudo é uma coisa boa, mas às vezes é cansativo. Mas nos somos caras legais, conseguimos administrar tudo!
REG: Sobre a feitura do filme, foi difícil para vocês abrir as portas para os diretores revirarem a história de vocês? Especialmente o Neil, que parece ser o mais fechado dos três…
Alex: Sim, sim, para mim é fácil. Eles vieram com idéia do fazer documentário e dissemos a eles que precisávamos acertar várias coisas. Mas ficamos animados com a idéia, e não há nenhuma polêmica ou coisa do tipo sobre a qual não se pudesse falar. E eles tinham uma história, um foco sobre como fazer. Então dissemos que não queríamos nos envolver, é o filme eles, não nosso. Combinamos de fazer umas três entrevistas com cada um de nós e dar acesso a todo o tipo de coisa que temos guardado, como fotos, gravações antigas. E eles conseguiram coisas que só fomos ver no cinema, eu nem sei onde, quando ou como arranjaram essas coisas. Quanto ao Neil, ele foi bem aberto ao falar sobre como ele é tímido, como se sente desconfortável com a fama. Acho que ele é uma parte muito, muito importante da história do Rush, e isso ficou bem claro no filme.
REG: Eles propuseram alguma coisa que vocês não toparam fazer?
Alex: Não, mesmo porque nós não nos metemos em nada, não quisemos nenhuma remuneração por direitos autorais. Não quisemos ter nenhuma responsabilidade sobre o conteúdo desse documentário. Não é filme que nós fizemos, mas o filme que eles fizeram.
REG: Você acha que, de alguma forma, esse processo de se abrir para um documentário forneceu novas direções para vocês como artistas de uma banda?
Alex: Eu não sei, às vezes é difícil de dizer, porque olhamos de dentro para fora. E de dentro para fora as coisas continuam as mesmas. Mas o olhar da banda, de fora para dentro, eu acho que talvez seja diferente agora.
REG: Num dos trechos do filme o Geddy diz que pensou que a banda fosse acabar depois dos dramas familiares vividos pelo Neil. Você acha passar por essa situação fez a banda voltar mais forte que antes?
Alex: Acho que sim, vivemos uma experiência muito, muito terrível. Foram três, quatro anos que vivi fora da minha vida, um período muito difícil. Tudo poderia acontecer, a banda se desfazer era algo bem próximo de acontecer, era uma hipótese bem real terminar. Mas nós voltamos e trabalhamos duro para voltar aos eixos, e agora, anos depois, estamos sólidos como uma rocha. Estamos tocando bem como nunca tocamos e o show é muito bom, os fãs estão adorando. Estamos realmente bem, e vou fazer 57 anos na sexta…
REG: Parabéns! Falando em festa, como foi o jantar que aparece nos extras do DVD do filme, no qual vocês três ficaram de pileque…
Alex: Eu não vi ainda! E posso te dizer que não me lembro muito daquela noite. Tivemos uma noite muito boa, nos divertimos muito. Fazia um tempo que não víamos o Neil, então foi bom para eu e o Geddy passarmos aquela noite com ele. Foi a última coisa feita pelos diretores, porque eles perceberam que não tinham gravado nada de nós três juntos. Então sugeriram esse jantar, acabou sendo uma boa forma de nos mostrar como nós mesmos.
REG: Esse é o tipo de programa que vocês fazem sempre ou só quando estão na estrada?
Alex: Nem na estrada, porque o Neil viaja separado de nós. Bem, toda noite nós jantamos juntos. Nós viajamos no ônibus e o Neil vai de moto a todos os lugares em que é possível fazer isso. Numa turnê acaba que só jantamos os três juntos em um ou dois shows. Geddy e eu saímos juntos sempre nas folgas e comemos juntos.
REG: O filme mostra que vocês dois são mais próximos e o Neil mais afastado…
Alex: Mas quer saber? Na estrada, depois de 36 anos viajando, você deve achar a melhor maneira de passar por isso, como se sentir melhor durante uma turnê. Para ele é guiando a moto dele, o faz ficar invisível. Então eu respeito isso. Eu jogo golfe, porque me tira do quarto de hotel por uma cinco ou seis horas. O quarto é como uma prisão pra mim. O que eu preciso para ficar bem numa turnê é ficar o mínimo necessário num quarto de hotel.
REG: Outra cena interessante no filme é quando Geddy diz que, durante o processo de gravação do álbum “Hemispheres”, vocês não conseguiam gravar a música “La Vila Strangiato” num único take. Como vocês fazem para tocar essa musica ao vivo? Vocês mudam muito, no show, em relação à versão do disco?
Alex: Eu acho que quando gravamos “La Vila Strangiato” nós gravamos duas vezes em dois takes. Gravamos tudo duas vezes e editamos. Em “Xanadu”, no disco anterior, nós fizemos num take só, na primeira vez em que gravamos.
REG: Qual das duas é mais difícil de tocar?
Alex: “La Villa Strangiato”, sem sombra de dúvida, é muito mais difícil. Tem muitas partes que são muito rítmicas. Nós tocamos essa música no início do bis, e é muito divertido de tocar, porque podemos brincar com a estrutura, o Geddy não precisa cantar, podemos agitar mais no palco.
REG: Mas, enfim, vocês fazem exatamente a versão do disco ou mudam alguma coisa?
Alex: Sempre tentamos fazer tudo igualzinho aos discos, exceto se tiver algo no repertório de muito antigo ou se formos juntar com outras músicas. “Working Man”, por exemplo, tocamos diferente a cada noite! É bom, e faz bem para nós nos divertirmos também. No caso de uma música como “Strangiato” é muito difícil de tocar toda a noite, numa versão bem próxima da do álbum, mas nós tentamos.
REG: Qual período do Rush nesses 42 anos foi o mais legal pra você?
Alex: Taí uma coisa difícil de dizer, porque agora as coisas estão realmente muito boas. Quando você é novo sua abordagem é outra, há uma energia diferente. Eu sei lá, acho que depois de muito tempo estamos vivendo nosso melhor bem agora. Provavelmente somos mais populares do que já fomos em qualquer uma das fases. Acho que estamos tocando melhor do que já tocamos. E estamos fazendo turnês com o mesmo tamanho de quando tínhamos 20 anos. Temos mais a cabeça no lugar… viajar é sempre difícil, sinto saudades da minha família, mas você acaba equilibrando as coisas.
Geddy Lee à frente de Neil Peart e a bateria projetada especialmente para a 'Time Machine Tour'
Geddy Lee à frente de Neil Peart e a bateria projetada especialmente para 'Time Machine Tour'

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