sexta-feira, 14 de junho de 2013

Entre a cruz e a espada

Começa amanhã, dia 15, a Copa das Confederações 2013, a ser disputada aqui no Brasil. O evento reúne os campeões dos torneios organizados pelas seis confederações da FIFA, mais o campeão do mundo e o país sede. A rigor, não passa de um evento teste para as questões infra estruturais para copa do mundo, pois, afinal, você já ouviu algum jogador falar que sonha em ganhar a Copa das Confederações? Ou algum jornalista ou torcedor dizendo que esse ano é rumo ao tetra?

Não né?

Porém, quis o destino que para o Brasil fosse um pouco diferente.

Com uma seleção que não ganha um título nem convence desde 2009, quando foi campeã do torneio, a seleção vem acumulando uma série de resultados modestos, muito aquém do título de melhor seleção do mundo que já foi tantas vezes empunhado pela equipe nacional. Logo, muita pressão vem sendo jogada por boa parte da torcida e da imprensa, que deverá usar o torneio para julgar o técnico Felipão e os principais jogadores do elenco. Além disso, um título seria útil pra resgatar a paixão e o espírito de copa do mundo e assim amenizar a revolta popular com a onda de imoralidade que cerca as obras públicas do evento. Meio triste pensar assim, mas é provável que aconteça.

No meio desse turbilhão, encontra-se um jovem de apenas 21 anos. Neymar é e continua sendo, desde 2010, alçado a principal ídolo do futebol, sendo suas glórias exaltadas e fracassos duramente criticados. Com essas cobranças de proporções desumanas, a comissão técnica resolver blindar o garoto, e com razão. É necessário blindar Neymar não só pelo grande jogador que é, mas pelo ser humano que existe independente de ser atleta profissional. O cara tem apenas 21 anos e tem a cobrança de ser o principal jogador de uma nação que acha que futebol é questão de vida ou morte.

Muito desse super dimensionamento de Neymar se deve a mídia e ao Marketing, pois é melhor associar sua marca ou produto (e nisso incluo as transmissões esportivas como produto) à um super atleta, descrito com qualidades sempre superlativas, do que à de um atleta comum, que pode errar ou acertar, de que pode brilhar ou ser discreto, que pode ser o principal ou o coadjuvante. Com certeza a Claro, Volkswagen, Clear Men, entre outras, não querem ver seus produtos indicados por alguém que pode errar ou não ser " o cara" do momento, pois afinal, quem irá copiá-lo? Quem irá segui-lo nas suas escolhas de consumo? 

Algo semelhante aconteceu na década passada com Lebron James, da NBA. O atleta entrou jovem na NBA, com 18 anos apenas, e já era tido como o principal nome da liga pela imprensa e publicidade. A imagem vendida por esses meios foi tão exagerada que nem o talento monstruoso do atleta consegue dar vencimento ou satisfazer as demandas criadas. Para se ter noção, a campanha publicitária da Nike para o jogador é que os torcedores são "testemunhas" dos feitos do atleta. Numa entrevista feito pelo seu ex-companheiro de equipe Anderson Varejão na rádio Estadão/ESPN, o pivô afirmou que Lebron no começo de carreira vivia procurando saber o que se falava dele e que, na opinião do brasileiro, isso tirava um pouco o foco do atleta.

Enfim, o torneio vai começar amanhã. Neymar deve ser cobrado e exaltado como apenas um humano. A seleção não vive uma fase boa, então não adianta sonhar demais. E ganhando ou perdendo o torneio, não podemos fechar os olhos para as presepadas dos nossos governantes.




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