De uns tempos pra cá, meu prazer por acompanhar o futebol diminuiu bastante. Antes era o meu esporte favorito, mas hoje acompanho apenas o velho Ceará de perto e vejo notícias esporádicas de outros times. Não consigo ir muito além disso.
Desde que me entendo por gente, passei a acompanhar esse esporte tão popular no Brasil. Toda minha família é fanática pelo assunto, em especial pelo Ceará Sporting Club. Com o tempo peguei essa paixão e entre os meus 9 anos até os 16 eu respirava futebol de forma intensa.
Com o tempo isso esfriou bastante...
A primeira coisa que começou a encher o saco no futebol foi ver substituído o interesse pela vitória pelo interesse da não derrota. Hoje o futebol é um esporte convarde. Muito disso parte da pressão em torno das equipes e dos profissionais que fazem parte delas. Não há mais paciência para que um trabalho seja desenvolvido e a todo instante técnicos e jogadores são contratados e dispensados, fazendo com que o medo de perder o emprego seja superior a qualquer desejo por conquistas. Isso reflete diretamente nas partidas ao ver quase todas equipes optarem por esquemas defensivos, fazendo com que a partida seja uma batalha de faltas e retrancas, sendo os momentos de inspiração e beleza cada vez mais raros. É uma época onde atacantes são elogiados pq marcam a subida do lateral adversário. Ver uma final de mundial entre Chealsea e Corinthians como ano passado, dois times marcadores pouco talentosos, só atrapalha ainda mais.
Essa mentalidade de retranca e jogo físico acaba moldando o futebol de forma mais profunda do que podemos imaginar. Sob a argumentação de futebol moderno, as equipes, em especial brasileiras, cada vez mais promovem o atleta de vigor físico e poder de marcação, sendo aquele jogador de estilo leve e habilidoso cada vez mais escasso. Outro fator que prejudica o futebol é a nova mentalidade das equipes de base. Antes o foco era a revelação de talentos, sendo irrelevante os títulos. Hoje, pelo contrário, a questão do resultado já interessa e é comum ver os técnicos dessas categorias colocando suas equipes jogando de forma retrancada. O futebol brasileiro, leve e talentoso, anda se tornando o futebol cintura dura e rígido que por tanto tempo foi motivo de piadas por essas bandas do planeta.
Outro ponto que considero muito chato é o próprio torcedor. Primeiro pq as torcidas organizadas, que sob a desculpa de amor ao clube, articulam verdadeiras gangues que promovem a violência e a hostilidade nos estádios, contando com agressão de pessoas e depredação de patrimônio público e privado. Outra coisa irritante é mania de perseguição que todas as torcidas brasileiras tem, achando que todo o universo do futebol (imprensa, federação, comissão de arbitragem) conspira contra sua equipe através árbitros que se vendem ao rival. Extremamente comum a expressão "contra tudo e contra todos" quando os torcedores querem mandar a mensagem de que a equipe vai ter sucesso embora todos queiram roubar seus clubes. Sem contar o cinismo durante o jogo, com as interpretações distorcidas e memória curta quando seus times são beneficiados com algum erro da arbitragem. Ah, sem contar quando a torcida apoia seus jogadores que descem porrada no jogador de maior talento do time adversário.
Outro ponto patético são os nossos dirigentes que organizam campeonatos que fogem do bom senso. O campeonato cearense, por vontade dos clubes, tem jogos de 2 em 2 dias, fazendo com o tempo de repouso e preparação técnica seja mínimo ou inexistente, tornando o nível da competição ainda mais fraco. A maratona de jogos só faz diminuir o nível técnico. Ou que tal a Fifa vendendo sede para copa do mundo? Ou esquema de manipulação de resultados com quase 400 jogos sob suspeita?
Não podemos esquecer também a relação promiscua do poder público brasileiro com grandes equipes. Estádio privados financiados com dinheiro público do BNDS, empresas estatais patrocinando equipes e protelamento no pagamento de dívidas trabalhistas, fiscais e previdênciarias? A gente vêr por aqui.
Por fim, outra coisa que me enche o saco é a imprensa esportiva. Afinal, Neymar é rei ou uma maçã podre? Eu faço essa pergunta pq a cada 15 dias os nossos jornalistas ou exaltam, comparando com pelé, ou esculhambam o jogador. Mas isso não fica só pra ele... A cada novo talento é um assédio sem igual, reportagens exaltando o talento e incentivando a idolatria e ao primeiro sinal de falha tudo isso cobra um cruel preço do atleta. Aqui no Ceará a nossa rádio esportiva é a ainda mais patética, onde alguns comentaristas recebem trocados para elogiar atletas, empresários e dirigentes.
Por essas e outras, apreciar o futebol tá cada vez mais difícil....
2 comentários:
Cara, o gosto pelo futebol fica difícil de manter mesmo. O esporte é ótimo, juntar os amigos e jogar uma partida é sempre bom, mas assistir os campeonatos ta um saco. São esses jogos retranqueiros, como você disse, que os dois ficam só esperando pra jogar no erro do adversário. Um jogador ou, melhor ainda, um esquema, de ataque para penetrar a defesa a adversária é raro.
Provavelmente o que mais me decepciona no futebol, é a sensação de que todo jogador é um pote de porcelana. Impressão causada pela quantidade de simulação de faltas, ou de simplismente aceitação de faltas. É uma idéia de que receber uma falta é a melhor coisa que ele pode conseguir. O jogo fica sem fluidez, sem grandes jogadas ou arrancadas.
Ainda falando sobre a retranca, há o caso do time que joga fazendo querendo usar o tempo a seu favor a todo custo. E então, dale fica no chão inventando dores e contusões!
A imprensa é um caso a parte. Essa idéia de que todo fim de semana é necessário ter descoberto o melhor jogador de todos os tempos, o gol mais bonito, mais rápido, que driblou mais, o maior goleador. Quem sabe tal cara não vire um talento de fato, mas com toda essa adoração em cima (que facilmente vira uma cobrança de resultados que apenas a propria imprensa prometeu que haveria), apenas prejudica o desenvolvimento do jogador.
Assim sendo, não digo que o problema é do futebol, o esporte continua sendo emocionante. O problema é a forma como vem sendo jogado.
Bem lembrado. Minhas críticas se direcionam mais ao futebol como opção de entretenimento. O esporte em si, especialmente nos rachas com os amigos, ainda é sensacional.
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