sábado, 6 de novembro de 2010

Iron Maiden no Chile não terá área vip

Acabei de ver no excelente blog dedicado ao Iron Maiden, Flight 666, que o show da banda que ocorrerá no próximo dia 10 de abril não terá pista premium, ou área vip, como preferir.

A motivação dessa decisão foi os transtornos envolvendo o show do Rage Against the Machine onde, durante a espera da apresentação, muitos fãs passaram a superar a divisória envolvendo as duas pistas culminando no evento que foi epicamente intitulado como " El génesis de la muerte de la Cancha Vip".

O vídeo do ocorrido é realmente impressionante. Dezenas de pessoas passaram a transpor a divisória e tal condututa fugiu tanto do controle que os segurança desistiram de combater o fluxo de pessoas entre as duas áreas e ficaram mais zelando para que não ocorrese nada de grave. Algumas barreiras foram removidas e não havia conflito entre seguranças e público.

O ocorrido fez os produtores locais refletirem e decidiram por não utilizar o formato segregador do público no show da Donzela de Ferro. Tal atitude é sábia e já vai na esteira de alguns eventos grandes, rock in rio por exemplo. Não se precisa esperar acontecer uma tragédia para tomar alguma medida efetiva.

Ao ver o vídeo, várias coisas vieram a minha cabeça. Primeiramente, o risco que tal acontecimento gerou. Milhares de pessoas amontoadas empurrando umas as outras em busca de avançar mais alguns preciosos metros. Uma tragédia poderia ter ocorrido. Segundo, o acontecimento deve ter dado uma dor de cabeça para os produtores para acertar as contas com quem tinha pago pelos privilégios da área vip, já que houve descumprimento contratual no caso.

Refletindo sobre a área vip

Acredito que eu posso opinar sobre o assunto pq já estive dos dois lados e senti as armaguras e privilégios que cada setor pode fornecer. Em outras oportunidades já tinhamos contestado a área vip, mas nada muito profundo.

A área vip, ou pista premium como é a nomeclatura mais utilizada no nosso país, é um dos principais meios de arrecadação dos produtores dos shows realizados no Brasil. Geralmente a lógica é a mesma. Altos preços que são, geralmente, bancados por grandes fãs da banda ( em sua maioria). Os fãs, principais consumidores do produto que é a pista premium, geralmente anseiam por ver sua banda favorita por muito tempo e querem que isso seja realizado da maneira mais plena possível, ou seja, bemmm perto dos seus ídolos. Os ingressos da premium vendem rápido e garantem um retorno mais imediato ao investidor do show.

Vendo pelo lado do fã, a pista premium me leva a refletir em dois caminhos diferentes. Primeiro, temos a possibilidade de um fã realizar o sonho de ver a banda por perto de maneira bem cômoda e sem atropelos. No meu caso no show do Rush, a pista premium era uma garantia que não viajaria tão longe a tôa, ou seja, atravessaria meio país para ver bonequinhos, como o Italo gosta de definir. O problema é que nem sempre o fã vai ter dinheiro, e o que pode acontecer é que este terá o seu show esfriado por um fator econômico. O doce sonho de tantos anos vai ser realizado com os obstáculos da triste realidade, nesse caso uma barreira metálica.

No show do Maiden eu me vi do outro lado, na pista comum. Tive que chegar mais cedo do que normalmente chegaria se tivesse na premium. Lutar feito um condenado pra me aproximar da grade para no fim das contas ficar bemmm longe da banda. E isso foi marcante pra mim, afinal era meu primeiro show grande.

As pistas premiuns não são de hoje. A ideia vem de muito tempo, mas ela nunca foi tão questionada. Começou com um lugarzinho garantido para celebridades ou autoridades. Depois começou a ser comercializada. Daí em diante, ela cresceu e cresceu, hoje toma uma parte considerável do local do evento e está mais caro do que nunca.

Uma das coisas emblemáticas dessa divisão é o fato de que quando falta pouco para o show a pista comum encontra-se lotada, enquanto a pista premium está bem folgada. Bate aquela dozinha no coração ver tanto espaço sobrando enquanto vc se espreme. Quem está na premium, e com razão, não precisa chegar em cima da hora. No show do Rush, enquanto via milhares de pessoas se espremendo na grande da comum, ao meu lado tinham poucas pessoas e só faltando 15 minutos para o show que o local lotou.

Outro ponto que chama atenção é que ela separa o público que geralmente mais se empolga no show. Percebi isso no Ceará in Rock desse ano. Enquantro um grupo pequeno enlouquecia próximo ao palco aos clássicos da era paul dianno no Iron, outro pequeno grupo curtia mais longe. Separados os dois grupos não chamavam tanta atenção, mas tenho certeza que juntos formariam um verdadeiro calderão.

Algo curioso, é que semelhante burla da pista premium aconteceu durante a apresentação da Rage Against no SWU desse ano, e não é pra menos. Vc passa a vida escutando uma banda falar sobre abolição das desigualdades e pregando a força unida dos homens e tem que assistir um show deles com uma clara segregação? O mais irônico é que a banda que prega tanto isso nas suas letras silencia diante dessa separação. O que os caras do Rage falaram? Nada. E não são só eles! Hoje, as grandes bandas não tem qualquer poder de barganha em relação ao show. É receber o seu cachê e pronto para tocar. Não influem nos valores dos ingressos que saltam aos olhos ou em questões como a pista premium. Não verificaram as condições de segurança do local e etc. Simplismente lavam as mãos, o que é algo triste. O poder público também nada faz! Bem que poderia combater a abusividades das taxas de (in)conviniência. As mais caras do planeta!!!

E assim seguimos, apenas querendo curtir um bom rock e com os direitos respeitados de preferência.

obs: confesso que fiquei emocionado vendo o video. A força da massa superando as barreiras. Confesso também que se fosse da premium ficaria puto. Na minha opinião, a pista premium tem que ser tirada na hora do planejamento do show, como no caso do Rock in Rio. Se já houve a venda dos ingressos, o que teremos um grupo de consumidores lesados.

obs2: percebeu como a força do público unido é bem maior do que qualquer equipe de segurança? Muito da coerção que o mundo exerce sobre nós está dentro da nossa cabeça.
obs3: perceberam como a equipe de segurança era formada por homens de meia idade e sem o pefil bombado? Acho que isso ajudou na hora de não combater e de pensar em apenas evitar uma tragédia. Muitos desses seguranças "guarda-roupa" do nosso Brasil confiariam mais nos braços do que no cérebro e o pau ia rolar.

2 comentários:

Italo disse...

Cara, muito bem exposto.

A situação da pista premium é muito complicada, principalmente para quem é realmente fã de música. Eu tiro por mim. Quando eu estou consumindo qualquer tipo de produto ou serviço e não concordo com a forma na qual o mesmo está sendo prestado, eu simplesmente paro de consumir, deixo de visitar o local, não compro mais produtos de tal marca, etc. Só que com música, o negócio é diferente, não tem essa de parar de consumir. Eu não vou deixar de ir a um show do Iron na pista premium por não concordar com a segregação (que fique claro que não concordo).

Assim, eu me sinto o paradoxo em pessoa, porque ao mesmo tempo que eu sou completamente contra a idéia de segregar os públicos, eu acabo colaborando para a segregação ao pagar pela pista premium. Mas e aí, vou deixar de ver de perto minhas bandas favoritas? No way.

Concordo demais com o Harley quando ele diz que o público só se torna um caldeirão quando não há barreiras, já que, quando tem as barreiras, a maioria dos verdadeiros fãs ficam à frente da mesma. Quem curte a banda e fica fora da area vip fica até constrangido em curtir o show com mais energia, como aconteceu com a gente no show do Iron.

Enfim, considero sim a existência da pista premium como um problema, e não vejo uma solução para o mesmo. Os produtores estão enchendo os bolsos de dinheiro, os consumidores (eu me incluo) continuam comprando, vai acabar por que?

A única coisa que me dá esperança é que ainda há um pouco de bom senso por parte de alguns empresários, como mostrou o Medina no RIR 2011. Imagina o cara botar uma barreira pra tentar segurar 200 mil pessoas... Com certeza iria dar merda.

Rafael(K) disse...

hehehe...
esse final do comentário do Italo me pareceu o capitão Nascimento, so faltou o "parceiro" no final hehehe...

Mas o lance da pista premium é foda, também sou contra e entretanto já a usei e provavelmente venha a usa-la novamente.
Questões:
A pista premium antes não era algo incomodo (aqui que eu acredito que esteja a solução para o problema), era uma faixa bem perto do palco, mas nada de mais, nada que fosse atrapalhar ou deixar longe do palco o resto do público. Hoje em dia, se você fica na grade de separação das pistas, você está longe do palco.
Outra questão, o meu problema que a premium soluciona, não é apenas o conforto. É a questão que eu não tenho estatura suficiente para ver um show de grande porte de longe. De perto tenho grandes dificuldades já. Solução pra esse eu não sei.

Obs: a "obs2" disse tudo :D