quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O que dizer sobre o Ceará in Rock 2012?

Semana passada, enquanto arrumava as malas para partir rumo à região serrana de Baturité para curtir um carnaval bem diferente do que rola pelo resto do país, eu escrevi uma postagem exaltando a ocorrência inédita de um festival completamente destinado ao rock durante o período carnavalesco.

O Ceará in Rock 2012 tinha tudo para ser a maior edição da história do evento. Com um cast de bandas que incluía a metal ópera Soulspell ( em duas noites - uma como tributo ao avantasia e outra com seu material autoral), a brutal Torture Squad, o retorno de Renato Tribuzy, a empolgante Hail, além de trazer Zak Stevens para cantar os clássicos da Savatage, a maior banda de metal sinfônico dos Estados Unidos. Somando-se aos destaques nacionais e internacionais, teríamos nomes de valor da cena local, ou seja, o cast estava muito forte. Além das atrações era prometida uma ampla estrutura (camping, transporte, banheiros, alimentação e etc) que daria aos headbangers cearenses a possibilidade de transformar a Serra de Baturité na meca do rock cearense.

Enfim, no plano das ideias tudo era perfeito, mas a execução, essa sim a parte mais importante e que tem o condão de definir ou não qualidade do evento, ficou muito a desejar. Muito mesmo!

O local do evento era um campo de futebol de terra batida que ficava a 2 Km da região urbana de Mulungu, o que não faria a menor diferença se tivesse sido feita uma intervenção da produção para providenciar a estrutura necessária que traria o mínimo necessário de conforto para os consumidores do evento.

Um dos serviços oferecidos, o camping, era desprovido de qualquer estrutura que justificasse os 50 reais investidos para a sua fruição. Não havia segurança, a iluminação era precária e os "banheiros" não ofereciam a mínima condição de higiene (se para os homens o negócio era sofrido, imagina para as mulheres). As barracas disputavam espaço com os carros que ali estacionavam, além de ficarem a beira de uma estrada, representando um risco ainda maior. 

Quanto à parte de alimentação, um prédio mal conservado ficava responsável para abrigar a cozinha do festival e um pequeno fogão tinha que dar de conta de todos os pedidos, fazendo com que o atendimento, apesar do esforço e da atenção das atendentes, fosse precário.

A área de shows era bem ampla e tinha a possibilidade de abrigar um público bastante considerável, mas o palco era pequeno e apertado, ficando bem abaixo da estrutura que foi montada para a segunda edição do festival em 2009. Quanto ao som, podemos dizer que esse, na parte estrututal, foi o forte do evento. Como sempre, mantendo o padrão sonoro do festival Ceará in Rock, a qualidade estava muito boa e dava pra maior ouvir parte dos instrumentos com clareza.

Mas quanto aos shows, o que dizer?

No primeiro dia eu não fui, pois estava prestigiando o Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga. Mas pelo que pude ouvir, muitos conflitos ocorreram entre algumas bandas e a organização, fazendo com que algumas deixassem de tocar no evento. Sobre os shows que ocorreram, só tive a informação de que o show de Zak Stevens foi realmente muito bom, embora a platéia que prestigiou a apresentação fosse um número constrangedoramente pequeno.

No domingo, dia em que compareci, nós tivemos os seguintes shows:

Burning All Hate: a banda parecia visivelmente chateada com o público presente. Além do vocalista comentar isso durante a apresentação, eles tocaram uma música atrás da outra com pouca interação com a platéia. Eu sei que deve ser frustrante para uma banda tocar naquela situação precária, mas o músico tem que entender o lado do público, que está ali pra ver uma apresentação forte e envolvente. Ao menos podemos dizer que a banda manteve a palavra e tocou apesar de todos os problemas.

Knights: outra banda que eu não conhecia e que me agradou, especialmente pelo vocalista que se apresentou como se tivesse no Rock in Rio e se dedicou 100% para a apresentação, interagindo muito com o público e fazendo o clima do festival melhorar bastante. Enfim, estão de parabéns esses caras.

Final Profecy: tocando um autêntico power metal, a banda ajudou a manter o sangue quente da galera. Guitarras bem melódicas e vocal com muitas notas altas, a banda me fez sentir nos anos 90. O único porém ficou para os problemas de voz do vocal, que teve que superar uma amidalite para realizar todo o show. Ao fim da apresentação a voz do cara apresentava muito cançaso, mas eles conseguiram terminar.

Warbiff: apesar da presença do guitarrista da banda no local do show, a banda não se apresentou. Uma pena, pois o show deles é muito bom.

Krenak: eles tocaram? Fico na dúvida, mas acho que não.

Obskure: eles já tiveram melhores apresentações, como no Ceará in Rock 2008, mas a qualidade da banda ainda estava presente. Vale ressaltar que o grupo se prepara para o histórico Metal Open Air!

Comando Etílico: Não tocou!

Scud: A banda veio lá do Piauí e impressinou. Ressalta-se o profissionalismo da banda que contou com equipe própria no festival e próprio stand de venda, com vários produtos da banda. Na parte musical, uma mistura muito forte de várias espécies do gênero metal, fazendo da apresentação um dos momentos fortes da noite. O baterista da banda toca muito bem e com muito vigor, sendo muito divertido vê-lo ao vivo.

Tribuzy: cara, apesar de todos os bons nomes do festival, foi essa a banda que fui ver. Apesar de apenas um cd lançado, tenho muito apreço pelo trabalho do Renato, pois o Execution é uma peça forte e sólida de um heavy metal feito com muita excelência. Execution é sem sombra de dúvidas um dos trabalhos que mais escutei na década passada e queria muito ver ao vivo as suas canções. O show não ocorreu e nenhum esclarecimento foi feito na hora, como se o público não tivesse direito de saber o que ocorreu. Uma enorme questão ficou em aberto, mas isso eu vou falar daqui a pouco.

Torture Squad: Essa banda é foda! Os caras subiram ao palco e tocaram com muita força e empolgação. A banda confirmou a excelente fase que atravessa. Na linha de frente Vitor Rodrigues, Castor e Evaristo tocavam de maneira alucinada enquanto Amilcar Christófaro batia de forma intensa na sua batera. Apesar de todos na banda contribuírem para o espetáculo, não há como deixar de destacar a performace de Vitor Rodrigues, com seu vocal agressivo e viceral, dando toda a dimensão caótica necessária para o som do Torture. Além de uma voz infernal, Rodrigues dominava o público na palma da mão, dando uma aula de como ser um frontman numa banda. O pesar é que o show banda foi muito curto, especialmente em se tratadando da atração principal da noite, pois a banda foi forçada a executar um set list muito mais curto. Apesar do show grandioso, não dá pra esconder a decepção em não ver o Torture em sua plenitude e sim apenas uma parte do seu show.

Feito um resumo dos shows das bandas, cabe compartilhar algumas informações: 

1 - Todos os shows das bandas locais foram muito curtos, tendo direito a apenas quatro músicas por banda (lembrando que no edital de seleção das bandas locais, as bandas selecionadas teriam direito a 40 minutos de apresentação);

2 - Além disso, vários shows não ocorreram, e entre eles o do Tribuzy, uma das atrações principais da noite;

3 - Os shows, para não perder o costume, começaram atrasados;

4 - E os shows gratuitos que iam rolar? Nem se teve notícia.

5 - Dentro da area de show não tinha comida pra vender, apenas refrigerante e água, e quem tinha entrado não podia sair (pelo menos esse foi o critério usado pelo segurança do evento)

5 - O festival foi cancelado sem nenhum pronunciamento oficial na hora do evento. Os consumidores que ali estava foram deixados sem nenhuma justificação. Para obter alguma informação era necessário procurar diretamente o produtor o que devia ser na verdade o contrário. Algumas pessoas só tiveram ciência do cancelamento na segunda de manhã e, enquanto isso, uma nota oficial saia na internet, mas nada foi dito pessoalmente;

O que se pode retirar das palavras acima escritas é que o Ceará in Rock 2012 passou longe do sucesso esperado. Mais uma vez houve muita vontade de fazer algo positivo e significativo e mais uma vez a concretização de tais objetivos não foi possível. É muito bom ver como a Incartaz acredita na nossa cena e busca promover sempre novos eventos e inovar no serviço oferecido, todavia não é a primeira vez que a mesma tropeça na hora do realizar a sua prestação de serviços, dando ao Headbanger, que nessa história é consumidor tb, um produto abaixo do esperado. Talvez seja hora de repensar as metas e buscar a realização de pequenos eventos que, se não terão muitos impactos de mídia, poderão servir para estabelecer um novo padrão de qualidade nos eventos de rock do estado do ceará que, em regra, são insatisfatórios.


Alguns pensamentos avulsos:

1 - O fracasso do evento é culpa do público?

De forma alguma! Todo mundo que frequenta a cena cearense sabe de suas limitaçõe e até desconfiava da viabilidade do Ceará in Rock 2012. O público não ir não foi surpresa, pois até os shows da capital sofrem com esse problema. Agora, se mesmo diante desses fatores que ostentavam o risco do evento, o mesmo foi "organizado" e comercializado, é obrigação da produtora cumprir com o serviço na forma que ele foi oferecido na sua divulgação. A oferta vincula o ofertante! É um princípio básico das relações de consumo. Além disso, os riscos da atividade empresarial correm para a empresa e não para o consumidor. É meu filho, ser empresário não é fácil não!

2 - Vc nunca produziu um show, então não pode falar nada!

Nunca produzi um show, mas tenho noção do quanto é difícil tamanha tarefa. Justamente por isso é que se deve ter a noção se um determinado evento é executável e viável. Não dá pra ficar arriscando de qualquer forma.

6 comentários:

Soul de Calçada disse...

Poxa, tinha lido algumas coisas que vi no facebook e até fiquei meio sem entender, como você falou, foi realmente feita um marketing e promessas de uma produção de peso e parece que a coisa desandou inexplicavelmente ou irresponsavelmente.

felipe ferreira disse...

O Krenak também não tocou, pois além de termos que bancar totalmente a nossa ida para mulungu, durante o sábado, tivemos notícia de todos esses problemas de produção via telefone e acabamos desistindo da ideia. O festival a princípio parecia uma excelente ideia, e realmente na internet ganhou status enorme. a minha experiência de trabalhos em outros ceará in rock me deixou preparado para coisas como atrasos, falta de estrutura mínima como espaço para tocar (o trambolho do aquiles é realmente grande) entre outras, mas realmente ter que acampar num lamaçal, com instrumentos, no escuro, sem alimentação foi algo que pareceu arriscado. o som foi bom, é o que dizem, mas chega de dizer que evento tem que ter som bom e pronto. ESTRUTURA E RESPEITO, é o que os MÚSICOS de rock pedem! roqueiro também é gente, e tem que ser tratado como tal! sem mais!

Anônimo disse...

Boa noite,
sou David Praxedes, baixista do Comando Etílico.Venho por meio deste espaço informar a todos que a nossa ausência no Ceará in Rock 2012, se deu em virtude do não cumprimento do que foi acertado com a produção do evento,pois o minimo que pedimos não foi cumprido que seria o traslado: Natal/RN-Mulungu/CE e vice-versa, onde ate o presente momento aguardamos qualquer contato por parte da produção, deixamos bem claro que nos nunca deixamos de cumprir com o que foi acertado,mas sim a produção do evento.
Desde já pedimos desculpas a todos, mas que fica inviável custear tal despesas de nossos ordenados.

Anônimo disse...

O "festival foi um desrespeito total ao público e aos músicos também!!!!
Imaginem essas pessoas viajando de longe e tomarem "calote" fora de seus Estados, fica muito complicado...o público perdeu e os músicos tiveram que pagar suas passagens de avião de volta, perderam dias de trabalho e ainda dormiram em um casebre sem condições mínimas para habitar!!!!
Que vergonha, que coisa diabólica, na boa sem comentários...o público merece explicação e os músicos que lá estiveram também!!!!
Sorte é que o Brasileiro "tá acostumado" e leva, mais uma vez, na esportiva!!!!!!!
Marcos Lima...um dos presentes no "público" do "festival"

Rudak disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Meu nome é Adriano Alves vocalista e guitarrista da Burn All Hate, fiquei muito chateado com o evento e acabei deixando transparecer ao publico minha insatisfação, sobre a interação com o publico tinhamos apenas 30 minutos para tocar e lutavamos contra o tempo e o publico parecia com medo, mas é assim msm somos uma banda nova e essas coisas acontecem, so tenho a agradecer as pessoas que estavam lah e viram nossa apresentação. Sobre o evento infelizmente não foi como todos esperavam, toda a estrutura era uma falta de respeito as bandas e ao publico é uma vergonha a falta de organização apresentada pela produção do evento a cena cearense está em expansão e para alcaçarmos as metas desejada devemos ter mais profissionalismo na produção de nossos eventos pois rockeiro tbm é consumidor e quer eventos de qualidade.